Está situada no litoral sul de São Paulo, na orla do Oceano Atlântico a última Terra
Indígena Tupi Guarani, a Terra Indígena Piaçaguera.
O grande aldeamento foi extinto em 1802 com o
argumento de libertar os índios do mando e dos trabalhos forçados a que eram
submetidos pelos jesuítas desde o século XVI.
Proclamou-se então, à época da extinção do
aldeamento, que os índios, uma vez “livres”, poderiam se misturar em meio à
população regional, e assim “civilizar-se”.
No entanto, como veio evidenciar-se nos anos
seguintes, coube à população indígena, uma vez banida, dispersa e repelida dos
domínios tomados por particulares, o trabalho forçado nas fazendas
e propriedades privadas que se expandiram sobre as terras do antigo
aldeamento.
Em 1927, foi criada por Decreto Estadual a Reserva
Indígena de Peruíbe, também conhecida como Aldeia do Bananal, compreendendo
numa área de 480 hectares, localizada junto às encostas da serra, já distante
do mar, para reunir-se os índios que permaneciam dispersos na região.
Tal iniciativa, que, por sua vez, buscava restringir
a presença dos índios numa pequena área, veio mostrar-se claramente
insuficiente para abrigar toda a população indígena dispersa pela região desde
a malfadada operação de 1802 visando a sua assimilação à sociedade regional.
Das várias aldeias formadas pelos Tupis-guaranis na
região litorânea, Piaçagüera é a última remanescente à beira-mar, onde ainda, e
não por acaso, permanece a vegetação nativa de restinga estendida até a areia
da praia.
Em 2002 a FUNAI delimitou a Terra Indígena Piaçaguera
com uma área de 2.795 hectares na divisa do Município de Peruíbe com o
Município de Itanhaém.
No entanto, durante os trâmites administrativos para
a demarcação desta pequena área remanescente em posse dos índios, quando já
prestes a receber a sanção definitiva do Ministério da Justiça, interferências
políticas retardaram a sua regularização.
Assim, graças aos índios, esta mesma área que ainda
permanece revestida pela restinga nativa, se destaca em toda a faixa litorânea.
Atualidade
Atualmente residem na Terra Indígena Piaçaguera em média
60 famílias, distribuídas em 9 aldeias: Aldeia Piaçaguera, Aldeia
Nhamamdú Mirim, Aldeia Taniguá, Aldeia Kuaray, Aldeia Tapirema, Aldeia Awa Porungawa Dju, Aldeia Tabaçu Reko Ypy...
Existem hoje diversos projetos nas aldeias, dentre
eles podemos citar: projetos turísticos, projetos voltados à agricultura, ao
cultivo de plantas medicinais, coco anão, árvores frutíferas e viveiro de mudas
de palmito Jussara, açaí e plantas ornamentais.
Os motivos da criação dos novos aldeamentos deram-se
por conta da ocupação territorial ou às vezes por conflitos em sua organização
política interna tradicional.
O Renascer da Grande Aldeia
A Aldeia TABAÇU REKO YPY (O Renascer da Grande Aldeia),
foi criada em 26 de maio de 2012 especificamente por motivos abaixo citados por
um dos líderes:
“Assim
como existem lideres na sociedade que desenvolvem trabalhos bons e ruins para
suas cidades, estados e país, enfim, nós, temos nossa organização política
interna e como tal, estávamos em uma aldeia em que a liderança não focava o
nosso propósito tradicional de fortalecimento, esse propósito foi dilacerado
pelo líder nos proibindo até de praticar a nossa tradição, isso enfraqueceu
nosso espírito e por mais que lutávamos para continuar nossos objetivos, não
conseguíamos apoio da maioria da comunidade, que também foram contaminados com
a sombra do esquecimento da nossa tradição, focando em individualismo e viver
por viver.
Eu, como líder, não consegui ver a divisão das
doações que chegavam e não beneficiavam as famílias que mais necessitavam, não
consegui assistir as necessidades básicas da aldeia, nossos rituais e festas
tradicionais sendo substituídas por interesses esportivos, serem sufocados por
futebol, chegando somente doações como jogo de camisa, bola e outros, e isso
realmente nos deixou muito tristes.
Entre essas e outras coisas ruins, veio uma coisa
boa, a demarcação de nossa terra possibilitando a ocupação territorial em
definitivo. E assim, poderemos seguir em busca de nossos objetivos”. Itá Mirim